Certa noite, depois de
muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o
sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da
montanha. Disse aos companheiros:
– Somos cegos para que
possamos ouvir e entender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em
vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí discutindo como se quisessem
ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora.
No dia seguinte, chegou à
cidade um comerciante montado num enorme elefante. Os cegos nunca tinham tocado
nesse animal e correram para a rua ao encontro dele.
O primeiro sábio apalpou a
barriga do animal e declarou:
– Trata-se de um ser
gigantesco e muito forte! Posso tocar nos seus músculos e eles não se movem,
parecem paredes...
– Que palermice! – Disse o
segundo sábio, tocando nas presas do elefante. – Este animal é pontiagudo como
uma lança, uma arma de guerra...
– Ambos se enganam! –
retorquiu o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante. – Este animal é
idêntico a uma serpente. Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma
cobra mansa e macia...
– Vocês estão totalmente
alucinados! – gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. – Este
animal não se parece com nenhum outro. Os seus movimentos são bamboleantes,
como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante...
– Vejam só! – Todos vocês,
mas todos mesmos estão completamente errados! – Irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena
cauda do elefante. – Este animal é como uma rocha com uma corda presa no corpo.
Posso até pendurar-me nele.
E assim ficaram horas
debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo cego, o que agora
habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do
elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios
estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:
– É assim que os homens se
comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é o todo, e
continuam tolos!