sexta-feira, 21 de novembro de 2008

UMA HISTÓRIA REAL

Numa ceia de confraternização no Club CILSA da cidade de Santa Fé, que reúne especialmente a amigos e familiares de crianças com capacidades especiais, o pai de uma destas crianças pronunciou um discurso que nunca será esquecido pelas pessoas que o escutaram.
Depois de parabenizar e enaltecer a instituição e a todos os que trabalham por e para ela, este pai disse a seguinte reflexão:
- Quando não há agentes externos que interfira com a natureza, a ordem natural das coisas alcança a perfeição. Porém meu filho, não pode aprender como outras crianças. Não pode entender as coisas como outras crianças. Onde está a ordem natural das coisas em meu filho? Todos tiveram um impacto diante daquela pergunta. O pai do menino continuou dizendo:
- Eu creio que quando um menino como Facundo, físico e mentalmente deficiente vem ao mundo, uma oportunidade de ver a verdadeira natureza humana se apresenta e se manifesta na forma em que outras pessoas tratam a essa criança.
Então contou que um dia caminhava com seu filho pela via de um pequeno clube do bairro, onde, por trás de um alambrado, algumas crianças jogavam futebol. Facundo perguntou a seu pai:
- Acreditas que me deixariam jogar?
O pai sabia que a maioria dos meninos não gostaria que alguém como Facundo jogasse em sua equipe, porém também entendeu que se permitisse que seu filho jogasse lhe dariam um sentido de pertinência muito necessário e a confiança de ser aceito por outros apesar de suas habilidades especiais.
Ingressaram por uma abertura do alambrado, que se notava em outro tempo havia possuído um pequeno portão de lata. Quando (no intervalo do jogo) aproximou-se, de onde Facundo e seu pai estavam parados, o menino que tinha a faixa de capitão do time de uma das equipes, o pai lhe perguntou (sem esperar muito) se Facundo poderia jogar... O menino olhou ao redor, como buscando alguém que o aconselhasse e disse:
- Estamos perdendo por dois a um... q a partida irá durar uns quinze minutos... Suponho que pode unir-se a nosso grupo de reservas e trataremos de que entre antes do final do jogo.
Facundo correu com dificuldade até o “banco de reservas” e com um amplo sorriso, vestiu uma camisa da equipe, suada e abandonada no chão por um jogador substituído que, fora do local, encontrava-se acariciando o tornozelo inchado.
Assim, Facundo se sentara entre o grupo dos que esperavam sua possibilidade de jogar, seu pai o contemplava. Os outros meninos notaram algo muito evidente: a felicidade do pai quando seu filho foi aceito.
Quando faltavam cinco minutos para terminar a partida, a equipe de Facundo conseguiu empatar o jogo, com um verdadeiro “golaço” da metade do campo, que surpreendeu o goleiro ao aparecer do lado do sol, pois já caia com a tarde...
Restavam alguns instantes quando ocorreu outro feito notável: uma mala de entrega de um defensor adversário permitiu ao centro-avante “da equipe de Facundo” fazer-se da jogada na área e quando se organizava para definir com muitas possibilidades, ao defensor, ofuscado por sua desafortunada jogada anterior, esbarrou por trás, o árbitro apitou sem titubear:
- Pênalti! Pênalti “sobre a hora”...!
No meio de calorosos festejos da equipe, pela incomparável oportunidade de ganhar e “sobre a hora” o tradicional oponente, se viu que o centro dianteiro, encarregado principal de golpear os pênaltis, mal podia pôr-se em pé devido o forte golpe recebido.
Foi aí que o garoto com a faixa de capitão do time convocou ao grupo de jogadores que deliberava sobre quem bateria a penalidade máxima e lhes indicou a todos, a voz em coro e assinalando a Facundo:
- Temos entre os reservas o melhor batedor de pênaltis da equipe!
- Eu saio! E ele entra para bater o pênalti!
Ele autorizou a troca dos jogadores, em meio da surpresa do restante da equipe, o capitão se dirigiu até Facundo, sentado distraído na borda do campo. Posicionou-se ao seu lado, lhe deu a mão e... de um puxão o posicionou em pé, lhe deu um ligeiro abraço e quando se retirava despreocupado, girou e lhe gritou:
- Sorte!
Facundo, obviamente extasiado somente por estar no jogo e no campo sorria de orelha a orelha. Seu pai o animava, no entanto, em sua cabeça um turbilhão de perguntas aconteciam sem controle: com esta oportunidade, lhe deixaram bater o pênalti e renunciar a possibilidade de ganhar a partida?
Surpreendentemente, Facundo entrou no campo. Seus dificultosos passos e sua desalinhada figura indicaram a todos os jogadores do campo que um certeiro disparo por parte de Facundo era impossível. Assim mesmo sabiam ser um suposto perito em futebol, todos se deram conta de que não poderiam, possivelmente, conseguir levar a bola ao arco.
Sem obstáculo nenhum, parou diante da bola posicionada no círculo, a dois passos do jogador oponente, o pai de Facundo obteve a forte sensação de que possivelmente... a outra equipe... estaria disposta... a perder... para permitir a seu filho ter um grande momento em sua vida!
Facundo se moveu alguns passos a frente e golpeou a bola muito suavemente. O jogador, que supôs obviamente a direção que levava o balão, se lançou para um lado… como para sacá-la no ângulo superior do arco!... no entanto a bola ingressava apenas rodando abaixo de seu corpo… e ultrapassava a linha do gol!
O árbitro validou a jogada e apitou dando por terminado a partida… Facundo, com seus braços no alto, transbordando felicidade, girou a cabeça olhando para seu pai… no entanto (que coisa estranha!) os jogadores de ambas equipes o vitoriavam e abraçavam como a um herói, que converteu o gol que deu a seu país o campeonato de futebol…
“Esse dia”, disse o pai, “os meninos das equipes ajudaram, dando-lhe a este mundo um pedaço do verdadeiro, caloroso e primitivo, amor humano”. O amor e a grandeza também forma parte da “ordem natural das coisas”.
Facundo não sobreviveu ao outro verão. Morreu nesse inverno... sem duvidar nunca ter sido um herói... e ter feito seu pai muito feliz... ao conseguir voltar pra casa nesse dia e ver sua mãe chorando de felicidade, abraçando o herói do dia.

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